22 de março de 2011

Irmãos menores

Os irmãos menores

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Um dos textos mais importantes escritos por Francisco de Assis certamente foi a Regra dos frades menores conhecida como ‘não bulada’, ou seja, que não recebeu a aprovação da Sé Apostólica. Os diferentes capítulos desta Regra exalam o frescor do Evangelho e nos colocam diante do espírito mais primitivo e mais fascinante da aventura franciscana.

1. Inegavelmente um dos pontos básicos da espiritualidade de Francisco, como de Clara, é a questão do minorismo. O tema está lapidarmente sintetizado no capítulo 6 da Regra não bulada: “E ninguém se denomine prior, mas todos, sem exceção, sejam chamados de irmãos menores. E um lave os pés do outro” (cf. Jo 13,14).

2. Jesus, nos evangelhos, não queria su¬perioridade entre os irmãos. O título dos que animam as fraternidades franciscanas é o de ministro, ou seja, daquele que serve. Isto é evangelho em estado puro. Os irmãos seriam menores. Francisco apoia-se ainda no evangelista João: os irmãos lavam os pés uns dos outros.

3. Tomás de Celano tenta elencar as características do irmão menor: é aquele que é submisso a todos, esco¬lhe serviços que não chamam a aten¬ção e não são cobiçados pelos outros (cf. 1Celano 38,4).

4. O minorismo se manifesta no propósito sincero de não se desejar cargos e postos de honra na vida e na Ordem. Os irmãos mostrar-se-ão disponíveis para os serviços que o Evangelho pedir e a Ordem solicitar e sempre com o espírito do lava-pés. Tal aparece claramente numa das Admoestações de Francisco: “Aqueles que foram constituídos acima dos outros se gloriem tanto deste ofício de prelado como se tivessem sido destinados para o ofício de lavar os pés dos irmãos. E se mais se perturbam por causa do ofício de prelado que lhes foi tirado do que por causa do ofício de lavar os pés, tanto mais ajuntam para si bolsas com perigo para a alma” (n. 4).

5. Essa disposição de lavação dos pés dos irmãos aparece no artigo da Regra da OFS que fala da animação por parte dos ministros: “Seu serviço, que é temporário, é um cargo de disponibilidade e de responsabilidade em favor de cada indivíduo e dos grupos” (n.21). O Ministro e o Conselho exercem o serviço do lava-pés: buscam os afastados, perdoam os que erram, cuidam com carinho dos que lhes são simpáticos ou menos simpáticos.

6. O minorismo e o espírito de serviço se manifestam de muitas maneiras na vida dos irmãos seculares:

• na convivência com as pessoas aquele que vive o minorismo dá lu¬gar ao outro, escuta o que ele tem a dizer, envida todos os esforços para que ele participe consciente e intensamente da aventura da vida;

• o irmão menor é aquele que não falta a uma reunião da Frater¬nidade, toma iniciativas de ajudar nos serviços em vista do brilho da caridade fraterna e para que todos se sintam bem;

• a pessoa que vive a espiritualidade do minorismo, em seus trabalhos pastorais mostra competência e se coloca à disposição dos outros, sem aparato, sem espírito de superiori-dade;

• os verdadeiros menores não ficam melindrados quando não são lembrados e mesmo quando são colocados de lado; o episódio da perfeita alegria é emblemático: o frade desprezado não reivindica seus direitos porque seu lugar é o último lugar;

• os irmãos menores não elevam a voz, agem com serenidade e falam sempre sem chamar atenção para si;

• os que vivem o minorismo servem: marido e mulher prestam serviços mútuos, os filhos servem aos pais e os pais se colocam à disposição dos filhos; os irmãos sadios da Fraternidade assumem os irmãos doentes, velam por eles, adivinham suas necessidades;

• os que são investidos de autorida¬de sobre os irmãos não exercem poder e dominação.

7. O tema do minorismo está vinculado ao da humildade. Os irmãos menores são humildes. Difícil descrever o que vem a ser a humildade. Quando alguém é humilde inspira simpatia, difunde bondade, cria laços entre as pessoas. Os franciscanos se sentem bem com os mais simples da terra. As admoestações de Francisco precisam bem o sentido da humildade que nada mais é do que verdade: “Bem-aventurado o servo que não se considera melhor quando é engrandecido e exaltado pelos homens do que quando é considerado insignificante, simples e desprezado, porque quanto é o homem diante de Deus, tanto é e não mais. Ai daquele religioso que é colocado no alto pelos outros e não quer descer por sua própria vontade. É bem-aventurado o servo que não é colocado no alto por sua própria vontade e que sempre deseja estar sob os pés dos outros” (Admoestação, 19).

Questões para o estudo em grupo:
1. O que mais chama sua atenção neste tema de estudo?
2. Jesus foi servo e servidor. Como Jesus concretizou seu serviço pela humanidade?
3. O que significa hoje lavar os pés dos outros?

Taise Barbosa
Fraternidade Semente da Paz
Iabuna -Ba

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